Participativa!!!

Participativa!!!

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Só mais uma história

Começou há algum tempo. Lindo, bem trajado, sorridente, dançando maravilhosamente, ele era puro encanto, agora com noite livre. Um telefonema, preço alto, mas compensava. Sônia o contratou no ato. Começou uma fase de sonho, de pensar em romance, de presenteá-lo com sorrisos, de pensar no passado. Bela, elegante, provocante, ela havia sido uma jovem mulher de muitos predicados. Da relação hoje findada, ficaram frustração e altas cifras na conta bancária. Suficientes para comprar um sonho de romance nas pistas.
Noites de prazer, música ao vivo, meia luz... Ele, solícito, cortês, a conduzia em boleros e sambinhas. E ela, a cada dia que passava, transformava prazer em paixão. Mudava o guarda roupa, deixava entrever os braços de idosa, imaginando que não importava. Não entendia o script, nem imaginava... Era tudo representação.
Até que veio o temporal. Enciumada, a dama a provocou. No conflito, tudo ficou claro: se ela tinha ciúmes, era porque também contracenava com ele em outro palco. E era jovem, dominava a pista, encantava com seu charme de cigana. Sônia lembrou que ele não tirava os olhos da outra nos bailes, lembrou dos abraços com os quais ele se insinuava com a rival. Pediu ajuda, tentou ofender, rebaixar. A outra, certa de estar dominando a situação, apenas sorriu e se afastou dele. Deixou-o sem sua melhor parceira, sem graça, sem motivação para estar ali, naquele baile. E então, Sônia percebeu, entendeu com clareza: todos os passos que ele elaborava na pista, todo esmero em vestir-se e perfumar-se, tudo isso não se destinava a ela. No palco, fazia parte da representação dele. Na platéia, o aplauso que ele desejava: a outra, mais jovem, bonita, a parceira dele nas pistas, aquela com quem ele arrancava aplausos nos clubes. A que ele não dominava, não seduzia. A dama de personalidade forte, que dava trabalho para conduzir, na pista e fora dela. A que ele admira e gosta. Ela era o alvo do show, que agora é findo... E a alegria que hoje não existe mais, ele não consegue representar. No seu rosto triste, o sorriso ensaiado não engana ninguém. Ele murchou, perdeu o viço, pois sua dama se foi. Trocou a foto na internet, por uma que ela tirou dele há meses atrás. Naquela noite da foto, comemorava o aniversário dela. Como sempre, com um show na pista. A foto reflete o olhar e o sorriso, o carinho que havia entre os dois.
 Sônia abandonou o charme. Apareceu para dançar vestida com roupas básicas em preto e branco, como quem vai a um funeral... Acabaram-se os abraços, a intimidade forçada, acabou-se o rosto colado no do rapaz de 20 anos. Sem o sonho romântico, findado o delírio, resta levar ao consultório do terapeuta a decepção a ser mastigada, deglutida, digerida um dia, quem sabe...

Nenhum comentário:

Postar um comentário