Não era de se
estranhar, pois a beleza da canção conquista. O ritmo,
seguido por passos de bolero. Mas ali, no meio de um baile, a jovem
impactou com sua chegada. Entrou de repente nos meus ouvidos, mexeu,
incomodou. Sofrida, estuprada para a tomada de sua cidade ,
violentada tendo como desculpas sua etnia e a guerra, a jovem de
Sarajevo não aguardava nem queria um par: contrariava a regra
e bailava sozinha no meio da pista. Suas roupas, rasgadas, sujas de
sangue, manchadas pela violência de uma guerra civil, seu corpo
marcado pela perda completa de limites na ambição
masculina. Ela girava. Maltratada e sem rumo, seguia rodopiando,
contagiando cada vez mais a minha emoção com sua figura
exausta, cuja alma desesperada nem permitia que o corpo manifestasse mais emoção.
Sua beleza ainda se esconde para fugir da violência. Naquele
momento, o tempo parou para relembrar sua dor. Por você, jovem
mulher na guerra da Bósnia, todo meu respeito apareceu mais
forte. Dançamos juntas, Miss Sarajevo.
O texto acima foi escrito para expressar a emoção sentido diante do paradoxo, quando escutei tocar a canção Miss Sarajevo em um baile de dança de salão.
Infelizmente, segundo a
Anistia Internacional, os crimes de estupro cometidos na guerra da
Bósnia -que terminou em 1995 - nunca foram punidos, nem o
Estado forneceu nenhum tipo de amparo financeiro ou prioridade em
apoio à saúde daquelas mulheres.
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